A ameaçada da usina hidrelétrica de Belo Monte
APÓS QUATRO DÉCADAS de projetos que remontam ao período da ditadura militar – estudos, protestos, revisões de planos, sentenças judiciais, contestações, bloqueios, apelos internacionais, um filme dirigido pelo americano James Cameron, de Avatar, e processos judiciais –, por fim as obras da usina hidrelétrica de Belo Monte tiveram início em 2011, ao custo previsto de 14 bilhões de dólares. O complexo de canais, reservatórios, diques e duas barragens está localizado 500 quilômetros ao norte de Kendjam, no Xingu, bem no local em que o rio faz uma gigantesca curva, conhecida como Volta Grande. O projeto, que terá a capacidade máxima de geração de 11 233 megawatts e cujo início de funcionamento está previsto para 2015, divide o país. Seus defensores o consideram uma maneira de produzir energia necessária para o desenvolvimento, enquanto ambientalistas o condenam como um desastre social, ambiental e financeiro.
Em 2005, o Congresso aprovou a retomada do projeto com a justificativa de que a energia ali gerada seria essencial para a segurança energética do país, que passava por um crescimento acelerado. Os caiapós e outros povos indígenas afetados pelo complexo hidrelétrico reuniram-se em Altamira em 2008. Um engenheiro da Eletrobrás, a empresa de energia estatal, foi atacado e sofreu um “corte profundo e sangrento no ombro”, segundo notícias da época. Alegando a deficiência dos estudos de impacto ambiental e a falta de consulta aos povos indígenas da região, o Ministério Público Federal abriu uma série de processos judiciais para interromper o projeto, gerando confrontos no próprio âmbito do governo. Tais processos acabaram chegando ao Supremo Tribunal Federal, mas as sentenças definitivas foram adiadas, e com isso a construção de Belo Monte recebeu autorização para seguir adiante.
Mesmo um complexo formado por apenas duas barragens terá um impacto enorme na bacia do rio Xingu, devido à abertura de estradas e ao afluxo de estimados 100 mil trabalhadores e migrantes. As barragens vão inundar uma área de 600 quilômetros quadrados. De acordo com as previsões oficiais, 20 mil pessoas serão deslocadas – as estimativas independentes sugerem uma quantidade até duas vezes maior de afetados. O gás metano gerado pela vegetação inundada será equivalente às emissões de gases do efeito estufa por usinas termelétricas a carvão. E o desvio de cerca de 80% da água ao longo de um trecho de 100 quilômetros do Xingu vai ressecar áreas que dependem de inundações periódicas e abrigam espécies ameaçadas de extinção.

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